Saturday, November 02, 2024

Como saber o quão pouco sei?

Sigo aqui nos minúsculos passos de investigação sobre o que nos faz acreditar no que acreditamos (epistemologia) e sonhando com aproximações de sínteses e interligações dos saberes para, ao menos, algum dia ou vida futura, termos noção do nosso grau de ignorância deles e também em relação às várias formas de tentar reduzi-la.

Friday, August 23, 2024

Traves no olho do dia a dia

 


Neste mundo noite

o sonho se congela ante à vigília

ao ver os ossos favelados

percorrer meu sujo para-brisa

das palavras não ditas

das palavras mau-ditas

nos elétricos semáforos

do ver e já se esquecendo

dos braços ressequidos

das mortes lentamente

dos olhos alheados

das ideias egoístas

dos sentimentos não sentidos

das bombas morais que não se via

nos centavos escondidos

O amanhecer da morte

No mofado ganha pão de cada dia.



Wednesday, March 13, 2024

Nem sei o quão pouco eu sei!

 
Nem sei quão...


...pouco sei!


Deus brinca, consigo mesmo, de se esconder??




No princípio era Um Tudo-Zero Eterno
Do inexistir pro Energia-sentir?
Sem som pois silencio é o solitário som? 
Em zero vibrar se seu vibrar é Um!? 
Sem cor, invisível, se há somente um tom? 
Logo era zero, o infinito, o Um? 


Sendo Este Todo Um só por puro Amor, 
Contraditório estava se só a sí  amava, 
Egoísta seria se só se amasse: Um só! 

Assim, no extremo de União em Um, 
Sendo um só, egoísta só lhe restava ser!?
Para Ser mais que ser devia se quebrar?... 
E pra de novo Amar devia muitos ser?

Por isto, grato, ajudem a responder: 

De-eus, num eterno parto de devir, 
Sem pensar, pois sem contrastes, 
Se-nos repartiu em infinitas partes 
Para através de nós existir!?

Sunday, January 07, 2024

Uma Psicologia de vencedor em versos públicos

...respondendo aos Versos íntimos da Psicologia de um Vencido:

"Eu, filho do carbono e do amoníaco,.
Monstro de escuridão e rutilância,.
Sofro, desde a epigênesis da infância,.
A influência má dos signos do zodíaco.


Proponho a Psicologia do vencedor em versos públicos:

TU esquecestes que o amoníaco,.
Ou o que quer que chames demoníaco,.
Forjado em luz foi no abraço do Sol?
Se tu só vês tua sombra monstruosa,.
Viras! Mostres tua face luminosa!
E naquilo que algum astro te induz,.
Podes torcer zodíacos, horóscopos...
E em ti modificá-los em prol!

Tuesday, November 21, 2023

Silenciamando

No silenciar da mente encontro um caminho, brevemente, entre O Ser e o coração. Então um belo pensamento, como pedra preciosa, um sopro de vento, brota através de mim numa bela canção. E minha alma-coração canta e minha mente se agita. Se agita de encanto e minha mente-alma, embevecida, contempla aquela pedra que sinto, assim, haver, do Todo brotado, de repente vertida atraves deste fragmento d’Ele, de mim. Ante a bela gema, agitei meus pensamentos com egoístas sentimentos de aquela jóia possuir. E me deixando dominar de encanto minha alma deixo num canto e tomo a gema pra mim. E minha mente volta a ser barulhenta, doi meu coração, e minh’alma silencia e lamenta, desejando cantar mais, sente não ter salvação!
Desconfia minha alma, que se a minha mente estivesse continuamente mais calma encontraria mais vezes a fonte permanente daquela emoção... E, quem sabe, em todos os seres, veria meu coração parte dos deles, que tantas gemas brotariam em infindas boas vibrações. Certamente se cada delas que por mim passasse eu imediatamente distribuísse para todos os meus-vossos corações! Ora, mas vejam só, publicando ou declamando este poema já estou eu às voltas entre o me envaidecer e o compartilhar... Então o que faço com o dilema entre o compartilhar que me expande e a vaidade que pode me bloquear? Será que somente o anonimato pode minhalma ajudar a salvar?

Thursday, June 04, 2020

Mais um crepúsculo na pandemia

Corpo preso no topo do prédio mas os olhos livres até onde alcançam a paisagem urbano-litorânea… Pôr do Sol laranja-acinzentado, calmo e morno, enquanto a Lua cheia, já nascida e alegre, embranquece o leste. Corpo ofegante após hora de exercícios e nove lances de escada. A máscara sufoca e cheira ao próprio hálito e suor. Retiro-a e tragando profundamente o ar vou saboreando o vento de maresia que vem das dunas longínquas… Corpo preso olhos livres! Fecho os olhos… Olhos presos mente livre! Voa para além do mar, rompe o teto cinzento de nuvens, atravessa o azul e se entrega à escuridão estrelado do Cosmos de uma noite infinda que ainda nem chegou ao olho, ao corpo... presos…
  ...presos estavam outros olhos e corpos no prédio ao lado que meus olhos indiscretos invadira ao se abrirem na prisão… Um velho sentado à cabeceira da mesa mas olhando para a janela. Ao seu lado da mesa uma velha se mantém cabisbaixa olhando pra dentro do apartamento… Ambos tristes… O velho tem tristes olhares de desejos para fora… como se saudades tivesse e quisesse sair voando pela janela e ganhar o mundo! No apartamento de baixo uma mulher lenta e melancólica arruma suas roupas na sua mala preta. O velho está dentro e quer partir… A mulher tem que partir mas quer ficar… Noutra janela um menino joga no computador indiferente ao derredor. Noutros mundos quer estar… Ao alcance de um clique sua mente vai voar! No apartamento embaixo um obeso solitário sem blusa estica as pernas deitado no sofá e zapeia o controle da TV. Seu cão gordo come ao lado da mesinha de centro. Parece que é o mundo onde querem estar… Assim anoiteceram hoje em Fortaleza alguns confinados da peste! Presos???


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Sunday, March 22, 2020

A mulher que queria um pássaro


A mulher que queria um pássaro

Quadro "mulher com pássaro branco" - autor desconhecido.


Ela gostava de abrir as janelas bem cedo pra sentir a brisa da manhã tocar seu rosto como se fossem dedos suaves das árvores, relva e pássaros a lhe acariciarem. Vivia só. Os filhos cresceram e foram embora. Seu ex-amor partiu porque só se machucavam. Saiu da cidade porque as pessoas acabavam sendo-lhe espinhentas. Então retornou aos campos de sua infância porque lembrava o quando fora feliz ali quando pequena, correndo no mato, subindo em árvores, perseguindo pequenos animais como se brincasse de esconde-esconde!

Naquela manhã um pequeno e lindo pássaro pousou em sua pitangueira bem próximo a sua janela. Cantava lindamente enquanto beliscava algumas pitangas maduras ou bicava feliz um inseto e outro nos galhos da planta. E ela viu o pássaro, se encantou por ele. O pássaro voou e foi embora. Ela pensou: -Ah como seria bom vê-lo todo dia e ouvir sua melodia todas as manhãs!

E no dia seguinte acordou mais cedo ainda na esperança de vê-lo novamente. Esperou... Esperou e nada do pássaro... Um lindo esquilo de calda felpuda passou embaixo de sua janela procurando sementes, mas ela nem o notou. Só queria o pássaro! Um gato lindo apareceu e correu atrás do esquilo e ela nem notou. Esperava o pássaro. O dia todo esperou ao menos ouvir o seu canto distante e nada!

Outro dia o pássaro voltou à pitangueira. Ela ficou tão feliz! Queria tê-lo todos os dias pois então seria mais feliz. Então depositou alguns grãos e farelos no parapeito de sua janela e se afastou dela. O pássaro sentiu o cheiro das migalhas, voou até lá e, desconfiado, bicou rápido o máximo de petiscos fugindo depressa pro galho de uma árvore próxima. E ficou lá cantando por algum tempo até que voou e sumiu.

No dia seguinte ele apareceu na árvore e ela colocou migalhas na janela. Ele foi lá. Demorou-se mais um pouco comendo e foi embora. E assim ela conseguia vê-lo quase todos os dias. Ele já não parecia mais ter medo dela. Teve um dia que até entrou na sua sala e comeu algumas migalhas da sua mesa... Como ela estava feliz! Mas como ficava triste nos dias em que ele não aparecia!

Então colheu alguns cipós no mato ao lado de sua casa e entrançou uma linda cesta dourada. Pôs emborcada em cima da mesa, apoiou a cesta pela borda com uma forquilha amarrada a um náilon muito fino. No dia seguinte quando o pássaro procurou migalhas na sua janela nada havia lá. Só na mesa. Muitos farelos deliciosos embaixo daquela cesta linda que lhe lembrava um aconchegante ninho... E quando ele começou a comer ouviu um “baque!” e a saída daquele ninho esquisito se fechou até que sentiu dedos trêmulos abrindo uma brechinha que não dava pra ele fugir. Depois uma mão morna entrou completamente no cesto e o agarrou delicadamente e com muito carinho o colocou numa grande gaiola, limpinha, cheia de comidinhas, poleiros variados e água fresca...


Quadro "mulher e pássaro" - autor desconhecido.

Mas o pássaro se debatia tentando sair. Fez uma grande bagunça até se cansar!

Dias se passavam e o pássaro não mais cantava, só tentava sair. Até que um dia ele não mais se debateu, ficou quieto, bebeu da água, comeu os farelos e só voava de um poleiro ao outro de vez em quando... Assim ficou por muitos dias. E a mulher pensava: -Ele é tão lindo, está aqui comigo, posso até acariciá-lo, mas ele não canta... Então só cuidava dele todos os dias e voltava à janela pra apreciar a beleza de todas as manhãs... Agora percebia o esquilo, o gato e outros pássaros que cantavam alegremente!

Até que um dia seu lindo pássaro voltou a cantar! Um canto mais lindo ainda do que antes! Melancólico mas, mesmo assim, formidável! E seu canto, dia após dia ia ficando mais formidável e melancólico até que um dia a mulher acordou, abriu as janelas, sentiu a brisa da manhã tocar seu rosto como se fossem dedos suaves das árvores, relva e pássaros a lhe acariciarem... Então se tocou que seu pássaro não estava cantando e encontrou-o no piso da gaiola com as perninhas encolhidas, pra cima, morto!