Thursday, June 04, 2020

Mais um crepúsculo na pandemia

Corpo preso no topo do prédio mas os olhos livres até onde alcançam a paisagem urbano-litorânea… Pôr do Sol laranja-acinzentado, calmo e morno, enquanto a Lua cheia, já nascida e alegre, embranquece o leste. Corpo ofegante após hora de exercícios e nove lances de escada. A máscara sufoca e cheira ao próprio hálito e suor. Retiro-a e tragando profundamente o ar vou saboreando o vento de maresia que vem das dunas longínquas… Corpo preso olhos livres! Fecho os olhos… Olhos presos mente livre! Voa para além do mar, rompe o teto cinzento de nuvens, atravessa o azul e se entrega à escuridão estrelado do Cosmos de uma noite infinda que ainda nem chegou ao olho, ao corpo... presos…
  ...presos estavam outros olhos e corpos no prédio ao lado que meus olhos indiscretos invadira ao se abrirem na prisão… Um velho sentado à cabeceira da mesa mas olhando para a janela. Ao seu lado da mesa uma velha se mantém cabisbaixa olhando pra dentro do apartamento… Ambos tristes… O velho tem tristes olhares de desejos para fora… como se saudades tivesse e quisesse sair voando pela janela e ganhar o mundo! No apartamento de baixo uma mulher lenta e melancólica arruma suas roupas na sua mala preta. O velho está dentro e quer partir… A mulher tem que partir mas quer ficar… Noutra janela um menino joga no computador indiferente ao derredor. Noutros mundos quer estar… Ao alcance de um clique sua mente vai voar! No apartamento embaixo um obeso solitário sem blusa estica as pernas deitado no sofá e zapeia o controle da TV. Seu cão gordo come ao lado da mesinha de centro. Parece que é o mundo onde querem estar… Assim anoiteceram hoje em Fortaleza alguns confinados da peste! Presos???


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